“Igualdade de género hoje para um amanhã sustentável” é o tema deste ano da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Dia Internacional da Mulher. Os temas vão mudando todos os anos mas o objetivo continua o mesmo desde 1975, designado pela ONU como o Ano Internacional da Mulher, adotando-se o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher: lembrar as conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres.
Em Portugal, também houve mulheres que desafiaram as regras e se notabilizaram em áreas tradicionalmente dedicadas aos homens. Selecionámos 10 mulheres portuguesas que foram pioneiras em diversas áreas, abrindo assim caminho a outras mulheres.
- 1. Antónia Pusich (1805-1883)
- 2. D. Maria II (1819-1853)
- 3. Adelaide Cabete (1867-1935)
- 4. Carolina Beatriz Ângelo (1878-1911)
- 5. Regina Quintanilha (1893-1967)
- 6. Branca Edmée Marques (1899-1986)
- 7. Maria José Estanco (1905-1999)
- 8. Maria de Lourdes Braga de Sá Teixeira (1907-1984)
- 9. Maria Amélia Chaves (1911-2017)
- 10. Maria de Lourdes Pintasilgo (1930-2004)
1. Antónia Pusich (1805-1883)
Nascida em Cabo Verde, Antónia Pusich teve um importante impacto na literatura portuguesa, não apenas pela sua escrita, mas também pela ousadia de utilizar o seu próprio nome em vez de um pseudónimo, para esconder o facto de ser mulher, como era habitual nessa época.
Antónia tornou-se poetisa, escreveu para vários jornais e fez campanhas pela liberdade de expressão e de ensino das mulheres e dos desfavorecidos. Foi também a primeira mulher a fundar o seu próprio jornal, tendo sido diretora e proprietária dos periódicos A assemblea litteraria, A Beneficência e A Cruzada.
A escritora defendeu ainda que as mulheres deviam ser encorajadas a aprender a ler e escrever para que pudessem participar na vida social e política do país.
2. D. Maria II (1819-1853)
D. Maria II tinha apenas sete anos quando, em 1826, o seu pai, o rei D. Pedro IV, abdicou do trono em seu favor, tornando-se assim rainha de Portugal e dos Algarves. A rainha D. Maria II deixou então o Rio de Janeiro, onde nasceu, e rumou a Portugal para assumir o trono.
Foi rainha em dois períodos diferentes: primeiro de 1826 a 1828, quando foi deposta pelo seu tio Miguel, e depois de 1834 até à sua morte em 1853.
Recebeu o cognome de “a Educadora”, devido ao seu trabalho que procurava melhorar os níveis de escolaridade em todo o país, e como “a Boa Mãe”, pois foi uma líder bondosa. No seu reinado foi promulgada uma lei de saúde pública que pretendia combater a propagação da cólera em Portugal.
3. Adelaide Cabete (1867-1935)
Nascida em Elvas no seio de uma família sem posses, Adelaide Cabete ficou órfã de pai muito cedo e por isso deixou de frequentar a escola para ajudar a mãe. Contudo, e apesar das dificuldades, aprendeu a ler e escrever de forma autodidata.
Foi apenas depois de casar e com o incentivo do seu marido que Adelaide Cabete fez o exame da instrução primária e posteriormente concluiu o curso liceal com distinção. A par dos estudos foi-se introduzindo na militância republicana e feminista.
Em 1900, tornou-se na terceira mulher a concluir o curso de Medicina no país, com a tese “Proteção às mulheres grávidas pobres como meio de promover o desenvolvimento físico das novas gerações”. Após a conclusão da especialidade exerceu Ginecologia e Obstetrícia.
Foi pioneira na reivindicação dos direitos das mulheres, e durante mais de 20 anos, presidiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Nessa qualidade reivindicou para as mulheres o direito a um mês de descanso antes do parto e em 1912 reivindicou também o direito ao voto feminino.
Em 1933, foi a primeira mulher a votar a Constituição Portuguesa que instalou o Estado Novo, ao qual se opôs.
4. Carolina Beatriz Ângelo (1878-1911)
Para além de médica e feminista, Carolina Beatriz Ângelo é também conhecida por ter sido a primeira mulher a votar em Portugal, numa altura em que as mulheres não podiam votar, por ocasião das eleições da Assembleia Constituinte, em 1911.
Cresceu no seio de uma família liberal, o que lhe permitiu ingressar no curso de Medicina, tendo sido também a primeira cirurgiã portuguesa.
No início do século XX, a lei estipulava que apenas o chefe de família podia votar, desde que tivesse mais de 21 anos e fosse alfabetizado, normas que seriam exclusivas dos homens. No entanto, uma vez que Carolina Beatriz, médica, feminista e sufragista, era viúva e tinha uma filha, era na realidade a chefe de família, pelo que pôde exercer o direito de voto, não sem antes ter levado o caso a tribunal.
O seu ato de rebeldia levou à promulgação de uma lei que declarava que “chefe de família” só se referia aos homens. Contudo, as suas ações ajudaram a chamar a atenção para a desigualdade de género dos sistemas eleitorais e foram o início de futuras campanhas pelo sufrágio.
Foi apenas em 1931 que foi concedido às mulheres o direito de voto e, ainda assim, com restrições: apenas podiam votar as que tivessem cursos secundários ou superiores, enquanto que para os homens continuava a bastar saber ler e escrever. Só em 1974, já depois do 25 de abril, seriam abolidas todas as restrições à capacidade eleitoral dos cidadãos tendo por base o género.
5. Regina Quintanilha (1893-1967)
Regina Quintanilha nasceu em Bragança e foi educada num meio social elevado. Com apenas 17 anos, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tendo sido a primeira mulher a completar o curso de Direito e foi a primeira advogada portuguesa.
Terminou o curso em três anos e, com apenas 20 anos, foi convidada para reitora do recém-criado Liceu Feminino de Coimbra. Recusou, porque ambicionava uma carreira que o Código Civil Português de 1867 vedava às mulheres, o exercício da advocacia.
Em 1913, Regina Quintanilha recebe a autorização do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça para advogar, sendo esse o dia em que vestiu a toga dos advogados no Tribunal da Boa-Hora, em Lisboa.
Posteriormente, Regina Quintanilha partiu para o Brasil, onde colaborou na reforma da lei brasileira. Estabeleceu escritórios no Rio de Janeiro e mais tarde em Nova Iorque. Anos mais tarde, voltou para Portugal, onde foi advogada de várias empresas francesas.
6. Branca Edmée Marques (1899-1986)
Branca Edmée Marques foi uma cientista, física e química portuguesa. Depois de ter trabalhado arduamente para construir uma carreira num setor especialmente reservado aos homens, aos 65 anos tornou-se a primeira mulher a obter a cátedra química numa faculdade de ciências em Portugal, 12 anos depois de se ter habilitado a essa posição.
Nascida em 1899, formou-se em Ciências Físico-Químicas em 1926 e tornou-se bolseira da Junta de Educação Nacional. Depois de se mudar para Paris, fez investigação em física nuclear e obteve o doutoramento sob a orientação de Marie Curie.
De regresso a Portugal, fundou e foi presidente do Laboratório de Radioquímica, o precursor do Centro de Estudos de Radioquímica da Comissão de Estudos de Energia Nuclear. Ao longo da carreira, Branca Edmée foi professora, publicou artigos regularmente e realizou investigações sobre aplicações pacíficas da tecnologia nuclear.
7. Maria José Estanco (1905-1999)
Natural de Loulé, Maria José Estanco começou por frequentar Pintura, em Belas Artes, optando mais tarde pelo curso de Arquitetura, que concluiu em 1942, tornando-se assim na primeira mulher arquiteta.
Já como arquiteta, tentou o ingresso em vários ateliers de arquitetura, porém viu a sua entrada no mundo do trabalho ser barrada pela sua condição feminina, dedicando-se então à decoração de interiores e à criação de móveis.
Foi ainda professora em vários liceus e deu aulas gratuitas de desenho e pintura a reclusos do Estabelecimento Prisional do Linhó. Democrata e pacifista, pertenceu à Direção do Conselho Nacional para a Paz e foi membro do Movimento Democrático das Mulheres (MDM), inscrevendo para sempre o seu nome na história da luta pela igualdade dos direitos das mulheres.
8. Maria de Lourdes Braga de Sá Teixeira (1907-1984)
Maria de Lourdes Braga de Sá Teixeira foi a primeira mulher a obter o brevete (documento que dá ao seu titular a permissão para pilotar aviões) em Portugal, com apenas 21 anos, tornando-se na primeira aviadora portuguesa.
Contudo, nem tudo foi fácil para Maria de Lourdes. Apesar de ter nascido numa família da média-alta burguesia, inicialmente o seu pai opôs-se à sua vontade de aprender a pilotar um avião.
Depois de muita insistência, Maria de Lourdes conseguiu convencer o pai e obteve a licença para pilotar em 1928, na Escola Militar de Aeronáutica. O seu instrutor foi o então capitão piloto-aviador Craveiro Lopes, que mais tarde seria Presidente da República.
9. Maria Amélia Chaves (1911-2017)
Maria Amélia Chaves foi a primeira mulher em Portugal a entrar num mundo até então reservado aos homens: a engenharia. Formou-se em 1937 em Engenharia Civil, no Instituto Superior Técnico, e inscreveu-se na Ordem no ano seguinte.
Maria Amélia confessou que chegou à engenharia por influência do pai, que era engenheiro militar, e devido ao seu gosto pela construção. Como engenheira, projetou prisões e, mais uma vez de forma pioneira, colocou nos seus projetos preocupações relativamente a ações sísmicas.
10. Maria de Lourdes Pintasilgo (1930-2004)
Maria de Lourdes Pintasilgo foi a primeira e, até à data, a única mulher a desempenhar o cargo de primeira-ministra em Portugal, tendo chefiado o V Governo Constitucional, em funções de julho de 1979 a janeiro de 1980.
Curiosamente, foi também a segunda mulher a desempenhar o cargo de primeira-ministra na Europa, dois meses depois da tomada de posse de Margaret Thatcher.
Maria de Lourdes Pintasilgo foi também pioneira ao licenciar-se em Engenharia Químico-Industrial, pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa, numa época em que eram poucas as mulheres que enveredavam pela área da engenharia. Entre os 250 alunos do seu curso, apenas três eram mulheres. Com a opção por esta licenciatura, desejava mostrar que o desafio do mundo industrial e a novidade da técnica eram também acessíveis às mulheres.
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Gosto muito de aprender sobre coisas!