O arquipélago dos Açores já nos habituou às suas maravilhas naturais, mas é impossível não ficarmos estupefactos com tamanha beleza. Todas as nove ilhas têm os seus encantos únicos e a ilha Terceira não é exceção. É nesta ilha que fica uma das grutas mais espetaculares do nosso país: o Algar do Carvão.
Situada a cerca de 12 quilómetros de Angra do Heroísmo e a cerca de 640 metros de altitude, a cratera de Guilherme Moniz esconde este fenómeno vulcânico. O Algar do Carvão está situado no interior de um vulcão adormecido, com um cone vulcânico de cerca de 90 metros de altura e com uma lagoa de águas cristalinas, a cerca de 100 metros de profundidade.
Como se formou o Algar do Carvão?
Tudo começou com a grande erupção do Pico Alto, que ocorreu a norte do aparelho vulcânico do Guilherme Moniz, que já existia, e que derramou as suas lavas a uma grande distância. Mais tarde, uma nova erupção, desta vez basáltica, rasgou o solo e iniciou um processo que levaria à formação de um vulcão estromboliano, o Pico do Carvão.
Numa primeira fase, ter-se-á formado a zona da lagoa e as duas abóbadas sobre a mesma. Só mais tarde é que se formou o Algar do Carvão. Os derrames de lava formaram rios de lava ácida muito fluidos que carbonizaram vegetação existente. Segundo a datação de um dos fósseis então formados, acredita-se que o Algar do Carvão tenha uma idade aproximada de 2148 anos.
Uma descida a 100 metros de profundidade
Hoje em dia, é muito fácil aceder ao interior da gruta, através de uma escadaria, mas nem sempre foi assim. O primeiro relato de uma descida ao Algar do Carvão de que temos conhecimento ocorreu a 26 de janeiro de 1893, com a utilização de uma corda, levada a cabo por Cândido Corvelo e José Luís Sequeira. Uma segunda descida, em 1934, levou à elaboração do primeiro perfil do algar, por Didier Couto.
Foi apenas a 18 de agosto de 1963 que se iniciaram as descidas organizadas ao interior do algar, por um grupo de entusiastas que mais tarde se organizaram numa associação denominada Os Montanheiros. Este grupo recorria a sistemas de iluminação portáteis mais eficientes, o que lhes permitiu explorar o local até ao mais remoto buraco, recolhendo também elementos caídos no chão que ajudavam ao estudo dos materiais de que era feita a gruta.
Após as primeiras descidas, o grupo entendeu que aquela maravilha devia ser partilhada com mais pessoas. Mas não era fácil fazer descer e subir uma grande quantidade de visitantes, uma vez que demorava praticamente um dia para que seis a oito pessoas pudessem entrar e sair da gruta. Ainda assim, o grupo realizou algumas expedições e, nos fins de semana, faziam deslocar dezenas de populares de cada vez.
No entanto, era necessário uma solução mais viável para levar os interessados ao interior do algar. Fizeram-se levantamentos topográficos para a abertura de um túnel que permitiria um mais fácil acesso aos visitantes.
As obras iniciaram-se a 28 de maio de 1965, prolongando-se até 28 de novembro de 1966. Durante os fins de semana e feriados, Os Montanheiros construíram um túnel de 44 metros até ao interior do algar, que mais tarde foi alargado e consolidado em betão.
No interior, o grupo construiu uma escadaria de madeira para permitir o acesso à parte interior do algar. Após diversos atos de vandalismo, em 1977, a escadaria foi substituída pela atual de betão, com uma extensão total de 300 metros. Em 2003, a escadaria foi repavimentada e alargada.
Apesar de todo o trabalho desenvolvido pela associação, o Algar do Carvão estava situado em propriedade privada, cujos proprietários tinham verbalmente autorizado as diversas obras que tinham sido feitas no local. Até que, em novembro de 1973, os proprietários, José Ataíde da Câmara e a sua esposa, doaram uma porção do terreno que albergava o algar. Foi também doada uma faixa de terreno, onde tinha sido rasgado o acesso ao algar, que é hoje um caminho de domínio público.
A abertura do Algar do Carvão ao turismo
O local foi oficialmente inaugurado ao público no dia 1 de dezembro de 1968. O Algar do Carvão era essencialmente procurado pela população da ilha e por alguns turistas que por ali passavam. Estes curiosos eram guiados por elementos do grupo Os Montanheiros e iluminados por focos de mão, de testa e candeeiros a gás.
Em 1987, terminou-se a montagem de um primeiro sistema de iluminação fixa no interior, alimentado por um gerador. Com o tempo, construiu-se também uma casa para receção dos visitantes e uma para albergar os geradores e arrumos.
Hoje, o Algar do Carvão é a cavidade vulcânica mais conhecida dos Açores, tendo sido a primeira a ter condições para receção de visitantes. O Algar do Carvão é um sítio de interesse geológico, sendo um geossítio do Geoparque Açores e foi finalista no concurso das “7 Maravilhas Naturais de Portugal”.
Inúmeras espécies de aves, tais como o pardal, o melro preto e o tentilhão, costumam procurar refúgio na gruta, especialmente durante o período noturno, tornando as visitas mais tardias bastante interessantes. Junto à entrada do algar no chamado perímetro da “boca do algar” encontramos uma flora bastante diversificada.
A imponência do algar atrai muita atenção e até já foi palco de várias atividades sociais, como atuações de grupos corais e grupos de música popular e até celebração de eucaristias. Por diversas vezes, este espaço foi alvo das atenções de produtoras televisivas, de diferentes nacionalidades, a fim de serem feitas reportagens e documentários.
Atualmente, é possível visitar o Algar do Carvão durante todo o ano, quer na época baixa, com aberturas semanais com dias fixos, quer na época alta, com aberturas diárias.
Além do Algar do Carvão e da cratera de Guilherme Moniz, poderá ainda visitar na ilha Terceira a cratera de Santa Bárbara e as famosas Furnas do Enxofre, umas fumarolas surpreendentes.
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