Portugal é um país com uma gastronomia riquíssima e variada, mas uma mesa tipicamente portuguesa não fica completa sem um bom vinho ou licor. Não há bacalhau sem um bom vinho, nem bitoque sem uma cerveja bem fresca. A comida e a bebida em Portugal andam de mãos dadas para nos proporcionarem banquetes deliciosos e memoráveis.
Além dos internacionalmente conhecidos vinhos portugueses e das cervejas locais, existem outras bebidas alcoólicas bem típicas e, algumas delas, que só poderá encontrar no nosso país. Viaje connosco e deguste o que de melhor Portugal tem para oferecer.
1. Vinho do Porto
É impossível falarmos de bebidas tipicamente portuguesas sem falarmos do vinho do Porto, um vinho licoroso, produzido a partir de uvas provenientes da Região Demarcada do Douro, sob condições peculiares derivadas de fatores naturais e humanos.
Mas o que torna o vinho do Porto diferente dos restantes vinhos, além do clima único, é o facto de a fermentação do vinho não ser completa, sendo parada numa fase inicial (dois ou três dias depois do início), através da adição de uma aguardente vínica neutra (com cerca de 77º de álcool). Assim, o vinho do Porto é um vinho naturalmente doce e mais forte do que os restantes vinhos (entre 19 e 22º de álcool).
Apesar de ser feito com uvas do Douro e armazenado nas caves de Vila Nova de Gaia, este vinho ficou conhecido internacionalmente como vinho do Porto a partir da segunda metade do século XVII por ser exportado para todo o mundo a partir desta cidade.
A sua origem é polémica. Há quem diga que o vinho do Porto surgiu no século XVII, quando os mercadores britânicos adicionaram brandy ao vinho da região do Douro para evitar que ele azedasse na viagem. Mas também há quem afirme que o processo que caracteriza a sua obtenção talvez já fosse conhecido bem antes do início do comércio com os ingleses. Na época dos Descobrimentos, o vinho era armazenado desta forma para se conservar um máximo de tempo durante as viagens. A diferença fundamental reside na zona de produção e nas castas utilizadas, hoje protegidas.
Existem vários tipos de vinho do Porto, sendo que os mais conhecidos são o Branco, Ruby e Tawny.
2. Vinho verde
Além do já mencionado vinho do Porto, Portugal tem ótimos e conceituados vinhos brancos e tintos, mas há um que se destaca por ser um vinho único no mundo: o vinho verde. Aquilo que o distingue é o facto de ser produzido numa região demarcada que inclui o território do noroeste de Portugal.
O vinho verde faz parte da mesa de qualquer casa tipicamente portuguesa, embora seja mais consumido no norte do país. Naturalmente leve e fresco, este vinho português é o segundo mais exportado, depois do vinho do Porto, de acordo com a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes.
Constituída em 1908, a Região Demarcada dos Vinhos Verdes abrange a região agrícola conhecida como Entre-Douro-e-Minho. A Norte, é delimitada pelo rio Minho, na fronteira com a Galiza, a Este e a Sul zonas montanhosas que constituem a separação natural entre a influência Atlântica e a zona mais interior de características mediterrânicas; e por último o oceano Atlântico constitui o seu limite a Oeste.
Foram estas características do solo aliadas a um clima favorável e a fatores sócio-económicos específicos que deram origem a um vinho tão distinto e original. As castas autóctones da região combinadas com as formas de cultivo da vinha também deram um grande contributo.
Muitas das castas produzidas na Região dos Vinhos Verdes são consideradas autóctones devido à sua antiguidade nesta região e pelo facto de terem surgido apenas no noroeste ibérico. Este é talvez um dos fatores que traduz com maior intensidade a especificidade do vinho verde.
A casta mais conhecida e reputada é a Alvarinho, originária da sub-região de Monção e Melgaço, junto ao rio Minho.
Rota dos Vinhos Verdes: uma viagem entre Douro e Minho
É um vinho único no mundo e o que o distingue é o facto de ser produzido numa região demarcada que inclui o território do noroeste de Portugal. O vinho verde faz parte da mesa de qualquer casa tipicamente portuguesa, embora seja mais comum no norte do país. Naturalmente leve e fresco, este vinho português é o segundo mais exportado, depois do vinho do Porto, de acordo com a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes.
3. Ginjinha
A ginja ou ginjinha é um dos licores mais famosos de Portugal. É feito a partir da maceração da fruta da ginja (nome científico Prunus cerasus), similar à cereja, muito popular em Portugal, especialmente em Lisboa, em Óbidos, em Alcobaça e no Algarve. A bebida pode ser tomada com ou sem cereja dentro, dependendo do gosto de cada um.
Em Lisboa, existem vários estabelecimentos exclusivamente dedicados à venda deste licor, como é o caso do pequeno bar A Ginjinha, localizado no Largo de São Domingos, perto da Praça do Rossio. Fundado em 1840, é o bar de ginja mais antigo da cidade e é atualmente gerido pela quinta geração da família Espinheira. O primeiro foi Francisco, um imigrante galego que aprendeu a fazer a bebida seguindo as instruções de um frade do Mosteiro de Santo António.
Perto deste bar fica outro dos locais míticos da cidade em relação a esta bebida, o Ginja Sem Rival. Um pouco mais moderno que o anterior, embora tenha mais de 100 anos, também atrai uma grande clientela.
Existem outros estabelecimentos na capital portuguesa que, embora não sejam tão conhecidos como os dois mencionados, também têm a sua história. Um exemplo é a Ginjinha Rubi, que abriu em 1930 e também tem a sua própria versão do popular licor.
Embora a ginja ou ginjinha seja famosa na capital, as localidades de Óbidos e Alcobaça têm a Denominação de Origem (DOP) pela sua ginja desde 2012. Esta é feita com produtos da própria região e cada local tem a sua forma particular de a fazer.
Ginjinha, o shot preferido de Portugal
Há bebidas que oferecem opções de aperitivo incluído no copo. Por exemplo, um Dry Martini pode ser pedido com ou sem azeitonas – também batido, mas não mexido, caso se sinta um James Bond – e um copo de ginja com ou sem cereja.
4. Poncha da Madeira
A poncha é uma bebida tradicional e emblemática da ilha da Madeira, feita de aguardente de cana-de-açúcar, mel e sumo de limão, laranja ou qualquer outra fruta. A poncha sempre foi uma bebida muito consumida no seio das famílias madeirenses, um pouco por toda a ilha, fossem elas mais ou menos abastadas.
Segundo alguns estudos, a poncha é originária da Índia onde é conhecida por panche o que quer dizer, traduzindo à letra, cinco ingredientes: o arrack – aguardente de arroz ou noz de coco -, sumo de limão, açúcar, especiaria – chá – e água.
Mas há também alguns estudos que concluem que esta bebida já era usada nas navegações portuguesas e castelhanas do século XVI. Para conservar o limão – usado para prevenir o escorbuto – nas longas viagens, era feita uma calda de aguardente e melaço de cana produzidos na Madeira desde o final do século XV.
Esta bebida chegou, assim, à Índia e ao Brasil no século XVI. No Brasil, originou a famosa caipirinha. Em Cabo Verde, bebe-se o grogue com raízes semelhantes. Na Madeira, usa-se 1/3 de melaço ou açúcar de cana, 1/3 de aguardente de cana e 1/3 de sumo de limão.
Em março de 2014, o Governo Regional da Madeira aprovou uma proposta de Decreto Legislativo Regional que confirma a indicação geográfica protegida ‘Poncha da Madeira’ e regula a sua produção e comércio. A proposta determina que a Poncha da Madeira só pode ser usada para identificação da produção na área geográfica das ilhas da Madeira e do Porto Santo.
5. Aguardente de medronho
A aguardente de medronho é uma aguardente feita a partir do fruto do medronheiro – o medronho – típica das serras algarvias e do Centro de Portugal. Os medronheiros crescem favoravelmente e de modo espontâneo em solos xistosos e pobres, em especial nas regiões do Alentejo, Algarve e no interior da Região Centro e Norte de Portugal.
Também existem plantações de medronheiro e os frutos são colhidos pelos agricultores locais e processados por particulares. Contudo, muito poucos agricultores têm uma licença para destilação, mas são tolerados para que essa especialidade portuguesa se mantenha viva.
A sabedoria popular aconselha a tomar uma dose de medronho após uma refeição pesada, para ajudar na digestão. Com cerca de 48% de álcool, ficará com certeza com uma sensação ardente na garganta.
6. Licor de amêndoa amarga
O licor de amêndoa amarga costuma ser chamado de Amarguinha, embora esse nome se refira, na realidade, a uma marca deste licor. Esta é uma bebida alcoólica doce, de origem portuguesa, mais especificamente da região do Algarve. É uma bebida espessa, de cor amarela-clara e com um teor alcoólico de cerca de 20%. Feito a partir da semente da amêndoa amarga, à semelhança do italiano Amaretto, é um dos licores mais famosos do país.
A amêndoa amarga, apesar de abundante na região do Algarve, não era normalmente consumida. Isto devia-se não só ao seu sabor amargo característico, mas também à grande concentração de cianeto, o que poderia provocar efeitos severos ou até mesmo letais se fossem ingeridas em grande quantidade.
No entanto, após os processos de esmagamento, maceração e destilação, elimina-se os vestígios de cianeto e o amargor desagradável. O resultado é uma bebida licorosa, doce e suave, sem vestígios das características mais negativas da sua matéria-prima.
O licor de amêndoa amarga é tradicionalmente consumido na forma de aperitivo, digestivo ou na composição de cocktails. É frequentemente servido com gelo e com limão, cuja acidez serve para contrastar o sabor doce da bebida.
7. Moscatel
O Moscatel é um vinho feito com uvas moscatel e, apesar de não ser exclusivo de Portugal, é um dos tipos de vinhos fortificados mais apreciados e consumidos no país.
Existem vários vinhos e espumantes produzidos a partir das uvas Moscatel, tendo sempre a característica adocicada. Em geral, acompanham muito bem sobremesas e, quando é servido bem fresco, serve também como aperitivo.
A uva Moscatel é originária da Grécia ou Egito. Em todo o mundo, destacam-se os vinhos Moscatel da Itália, Espanha e de Portugal. No nosso país, os mais conhecidos são os da região de Setúbal, sendo o Moscatel de Setúbal certificado com uma Denominação de Origem Controlada (DOC), e os do Douro, onde o Moscatel de Favaios é muito apreciado.
8. Jeropiga
A jeropiga é uma bebida alcoólica tradicional de Portugal, mais especificamente da região de Trás-os-Montes, especialmente consumida nos meses mais frios do ano.
À semelhança do vinho do Porto e do Moscatel, a jeropiga é um vinho doce, licoroso, com um elevado teor alcoólico, uma vez que é adicionada aguardente para interromper a fermentação das uvas e reter um pouco mais do açúcar natural da bebida.
No fundo, a jeropiga é composta por duas partes de mosto de uva, uma parte de aguardente e canela. Esta mistura resulta numa bebida com o equilíbrio perfeito entre a doçura e um aroma persistente a frutos secos.
Não se sabe ao certo como nem quando surgiu a jeropiga, mas acredita-se que este vinho terá surgido devido à escassez de vinho depois do verão, na época do São Martinho. Por isso, é no mês de novembro, quando se celebra o Magusto, que esta bebida ganha especial destaque. É o vinho favorito para acompanhar as castanhas assadas ou cozidas.
9. Licor de merda
Não se assuste com o nome deste licor, porque garantimos que não há nada de escatológico dentro. Com origem em Cantanhede, em 1974, o licor de merda é resultado do humor e imaginação de Luís Nuno Sérgio.
A base deste licor é o leite, ou o leite já transformado em licor, embora haja uma exótica fusão de outros ingredientes, maioritariamente de frutos, dando-lhe uma coloração amarelada.
Mas, ingredientes à parte, o que desperta mais curiosidade é o porquê do nome. Parece haver duas explicações. Uma delas explica que o criador do licor tinha um garrafão de 20 litros onde costumava verter resíduos de outros licores que ia fazendo, e a essa compilação de restos dava o nome de licor de merda.
Depois houve uma segunda explicação do nome quando se resolveu oficializar a receita e avançar com o produto. Nesta explicação, o nome tem uma conotação política, porque, num momento conturbado pós-revolução, querer-se-ia lançar uma farpa à classe política e à desordem partidária que se vivia na altura.
10 doces tradicionais portugueses
Independentemente da ocasião, há algo que não pode faltar à mesa dos portugueses: os doces. Quer seja a típica doçaria da avó que foi passando de geração em geração ou os doces inventados por freiras residentes em conventos que se mantiveram até aos nossos dias, há doces para todos os gostos.