A chegada à vila de Sintra não deixa ninguém indiferente. Fora da arquitetura tradicional portuguesa, parece que estamos a chegar a uma vila encantada com os seus palácios coloridos, o Castelo dos Mouros lá no alto e uma imensa natureza verdejante a envolver todo o cenário. E, com sorte, pode chegar num dia de nevoeiro, muito comum neste microclima, cuja penumbra lhe confere um ambiente ainda mais mágico e misterioso.
Aqui podemos rapidamente viajar até ao passado, na altura em que não havia carros, e imaginar o silêncio cortado pelo chilrear dos pássaros, pelas vozes ao longe da população ou pela passagem dos cavalos e das carroças. Aliás, as carruagens desta vila idílica ainda lá estão, mas agora destinadas aos passeios turísticos de quem visita esta nobre vila. Mas já lá vamos.
Sintra foi refúgio de reis, rainhas, nobres e fidalgos. Às portas da capital, era o destino da nobreza e das elites portuguesas do passado, e ainda hoje a arquitetura romântica aqui deixada ajuda a recordar e criar esse carisma.
Uma visita a Sintra tem, pois, de contemplar um percurso pelas ruelas da vila, onde pode descobrir recantos encantadores e edificações de época, assim como uma visita aos diversos palácios e jardins idílicos erigidos nas imediações. O Palácio de Monserrate, o Chalet e Jardim da Condessa d’Edla, a Quinta da Regaleria e o Palácio da Pena fazem parte deste ex-libris da arquitetura romântica deixado pela alta nobreza e burguesia do passado e que tão bem pintam a vila de Sintra.
Não é por acaso que Sintra foi a primeira Paisagem Cultural na Europa, em 1995, classificada pela UNESCO. Esta unidade cultural que tem permanecido intacta integra palácios, casas senhoriais, palacetes e chalets, todos eles envoltos em bosques e jardins de vegetação exuberante, que fazem desta vila um caso único em Portugal.
Mas a chegada a Sintra, atualmente, não é fácil. Muito procurada por turistas, é difícil o estacionamento para os carros, pelo que se recomenda a chegada de transporte público ou turístico. Já no centro da vila, poderá explorar as ruelas, a arquitetura romântica e as muitas lojas, restaurantes e cafés.
Não pode falhar, claro está, uma pausa para degustar os doces típicos: a Queijada de Sintra e o Travesseiro de Sintra. A primeira leva ovos e requeijão, tem um pequeno formato e uma massa exterior extraordinariamente fina. O travesseiro, um pastel recheado com doce de ovos e com um toque amendoado, tem um segredo tão bem guardado que apenas a família direta da Casa Piriquita, onde foi criado, tem acesso à receita do recheio.
Mas não é só o centro da vila e a sua arquitetura que dão o carisma a este destino. Inserida no Parque Natural de Sintra-Cascais, as imediações desta ‘vila que não quer ser cidade’ acolhe inúmeras espécies de vegetação, muitas delas plantadas em séculos passados para adornar as casas e propriedades dos senhores que as enfeitavam com a mais exuberante vegetação do mundo. E muita ainda aqui persiste.
Se a ela adicionarmos uma geologia caricata que faz emergir rochas imponentes da Terra, bem como a penumbra que tipicamente envolve a vila, temos o cenário perfeito para um certo misticismo. Sintra é conhecida também como o Monte da Lua e é terra de muitas lendas que vale a pena descobrir.
Por tudo isto, Sintra é também espaço privilegiado para a meditação e contemplação. O Convento dos Capuchos, inserido na natureza da serra, por exemplo, mostra como sempre teve este desígnio. Mas as várias fontes de água que correm pela serra, os penhascos, as capelas e os recantos da natureza convidam a essa mesma contemplação.
As opções nesta bela visita são várias. Deixamos-lhe um pequeno guia de sítios imperdíveis para quando visitar Sintra.
Parque e Palácio da Pena
O Parque e o Palácio da Pena são criações de D. Fernando II e representam o expoente máximo do Romantismo do século XIX em Portugal. O palácio foi construído no segundo ponto mais alto da serra, para ser observado de qualquer ponto do parque, floresta e jardins luxuriantes que têm mais de quinhentas espécies arbóreas oriundas de vários pontos do mundo.
O palácio ocupou o lugar do antigo convento de monges Jerónimos de Nossa Senhora da Pena, que tinha sido erguido no topo da Serra de Sintra em 1511 pelo rei D. Manuel I e se encontrava devoluto. Tem duas alas: o antigo convento e a ala edificada no século XIX por D. Fernando II. Estas alas estão rodeadas por uma terceira estrutura arquitetónica. E são, por isso, também três as cores que pintam este palácio colorido, considerado um dos mais belos da Europa.
Castelo dos Mouros
Sobranceiro à Serra de Sintra, e de configuração irregular, consiste numa fortificação construída por volta do século X após a conquista muçulmana da Península Ibérica, sendo ampliada depois da reconquista cristã. Trata-se de duas cinturas de muralhas que contornam de forma irregular os blocos graníticos da serra, por entre penedos e sobre íngremes penhascos. Ao longo da muralha é possível observar a vila, o Palácio da Pena e a extensa planície a norte até ao oceano Atlântico.
Convento dos Capuchos
O Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra – hoje conhecido por Convento dos Capuchos – foi construído em 1560, tendo permanecido habitado por frades franciscanos até 1834, data da extinção das ordens religiosas em Portugal.
O convento foi edificado no respeito maior pela harmonia entre a construção humana e os elementos naturais pré-existentes. Foi criado segundo uma filosofia de extremo despojamento arquitetónico e decorativo. O convento é de dimensões reduzidas e notável pela extrema pobreza da sua construção. É também conhecido como “Convento da cortiça”, dado o uso da cortiça na decoração dos seus pequenos espaços. A sua rusticidade e austeridade são indissociáveis da vegetação envolvente, em perfeita simbiose com a natureza.
Palácio Nacional de Sintra
O também chamado Palácio da Vila acolhe todos os que chegam ao centro de Sintra. Com as suas duas grandes chaminés brancas e múltiplas janelas vermelhas, é um monumento único e incontornável pelo seu valor histórico, arquitetónico e artístico.
De todos os palácios que os monarcas portugueses mandaram erigir ao longo da Idade Média, apenas o de Sintra chegou até aos nossos dias praticamente intacto, mantendo a essência da sua configuração desde o século XVI. Pode visitá-lo e conhecer as salas majestosamente construídas. Destaque para os tetos ricamente adornados. Olhe particularmente com atenção para a Sala dos Brasões e para a Sala dos Cisnes.
A cozinha deste real palácio é também alvo de muita curiosidade. É daqui que partem as duas chaminés cónicas, de 33 metros de altura, que marcam o perfil da vila de Sintra. Esta cozinha foi dimensionada para grandes banquetes de caça, destacando-se as diversas fornalhas e dois grandes fornos, para além de uma estufa e um trem de cozinha em cobre estanhado.
Quinta da Regaleira
Com grutas, poços, caminhos vários para explorar e muita vegetação, esta quinta é digna de uma tarde para aqui andar à descoberta de uma visão arquitetónica surreal. Situada no termo do centro histórico da vila, foi construída entre 1904 e 1910.
Foi o seu afortunado proprietário, António Augusto Carvalho Monteiro, ou Monteiro dos Milhões, ao associar o seu arrojado projeto de arquitetura ao génio criativo do arquiteto e cenógrafo italiano Luigi Manini que permitiu edificar um palácio, uma capela e demais construções cenicamente no contexto de um jardim edénico.
Na quinta, há referências à mitologia, ao Olimpo, a Dante, a Camões, à missão templária da Ordem de Cristo, a grandes místicos, à Magna Obra Alquímica, etc. Não se esqueça de espreitar o poço em espiral e entrar nas grutas escavadas na quinta.
Parque e Palácio de Monserrate
Também muito próximo do centro da vila está aquela que é uma das mais belas criações arquitetónicas e paisagísticas do Romantismo em Portugal. O Palácio combina influências góticas, indianas e sugestões mouriscas, bem como motivos exóticos e vegetalistas que se prolongam harmoniosamente no exterior.
Os jardins receberam espécies vindas de todo o mundo e foram organizados por áreas geográficas. Ao percorrer os jardins por caminhos sinuosos, pode encontrar ruínas, recantos, lagos e cascatas ladeados por plantas do México, Austrália ou Nova Zelândia.
Chalet e Jardim da Condessa d’Edla
Aqui viajamos até aos chalets alpinos que inspiraram construção deste refúgio romântico de D. Fernando II e sa sua segunda mulher, Elise Hensler, Condessa d’Edla. Da eclética decoração sobressaem as pinturas murais, os estuques, os azulejos e o uso exaustivo da cortiça como elemento ornamental. No exterior, o jardim que envolve o Chalet reúne vegetação autóctone e espécies botânicas provenientes dos quatro cantos do mundo.
Palácio e Parque Biester
Na estrada da Pena, na antiga propriedade da Quinta Velha, encontramos o Palácio e Parque Biester, que remonta às duas últimas décadas do século XIX. Graças a um recente esforço de recuperação, este palácio abre agora as suas portas a visitas pela primeira vez. Será possível descobrir a edificação que, de tão misteriosa e fascinante, até já foi cenário de cinema: Roman Polanski escolheu-a para ali filmar parte da sua longa-metragem de 1999, A Nona Porta, com Johnny Depp e Frank Langella.
O percurso pela escadaria principal, entre frescos e vitrais, encaminha os visitantes ao primeiro andar, onde a passagem para um alpendre em pedra esconde uma vista privilegiada para o Castelo dos Mouros, que também é visível a partir da capela neogótica do palácio, ligada à herança deixada pela Ordem dos Templários de Sintra.
No Parque Biester também há muito para descobrir, a começar por uma grande variedade de espécies exóticas, como cameleiras originárias da China e do Japão, faias verdes e vermelhas da Europa Central, as acácias da Austrália e abetos norte-americanos. Com assinatura do paisagista François Nogré, o jardim é organizado numa lógica de declive: diferentes patamares oferecem diferentes vistas. Inserida numa reentrância rochosa, encontra-se ainda uma formação natural, a Gruta da Pena.
3 segredos do Parque Natural de Sintra
Ao visitar o Convento dos Capuchos, situado na serra de Sintra, automaticamente se entende por que é que os monges franciscanos, que viveram ali desde o século XVI até ao XIX, se esmeraram tanto por cuidar dos seus arredores. Os seus aposentos não eram propriamente suítes presidenciais, uma vez que para entrar neles era preciso curvar-se, por isso os espaços ao ar livre eram a sua salvação.
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